terça-feira, 24 de novembro de 2009

Novo cordel: Territórios quilombolas da Capital, que se tornaram concretos para porcos ricos

Territórios quilombolas da Capital, que se tornaram concretos para porcos ricos.


Se você não vê, não sente
O que está acontecendo
na bela São Salvador
dos muitos prédios crescendo
no horizonte vertical
e o poder amolecendo

em concessões e coisa e tal
interesses do Barão
tem arvoredo e faculdades
com família mudarão
onde tinha os bichos
pra linda grande mansão.

Assim, produzindo lixos
pra sua nobre mordomia
e os arvoredos morrendo:
uma aranha ali existia,
espécie rara e mui bela
pra “Alfavili” moradia.

Acabou-se pobre aranha,
primeiro plano - dinheiro.
E pouco importa o resto!
O futuro dos herdeiros
as crianças de amanhã.
—Valei-vos como guerreiro!

Se pergunta, justifica-se:
—O crescimento econômico
é a mais valia, sim senhor,
pois vejam que lá é anatômico:
o crescer ta é na paralela,
o cimento é poder atômico.

Devasta concreto nela...!
sem falar, em aquecimento,
detona nossa cidade
saúde com sofrimento,
sistema respiratória
tortura sem argumento.

Canalhas, sem oratória!
tem no bolso vereador,
deputado e os empresários
tem seu sistema usurpador,
que corrompe o honesto
que destrói com esplendor.

Nos poucos que nos reserva
Não tem que acreditar?
Nem tão pouco uma plantinha
na paralela, restar.
Desgraçado do burguês
Quer roubar seu habitar.

Nem pra vim uma “disgraça!”
Ou desastre naturá,
mesmo como aranha foi,
ceifando-os à aniquilar!
Com doença tropical
pra consciência zerar!

Só que este cordelista
mora na federação:
se preocupa coa cidade,
se tocou desse ação
dos ladrões da natureza
quê não sabem ouvir não!

Da natureza desgastada
e pessoas entendidas
que sabem do mau revez,
estragando nossas vidas
num futuro muito próximo...
Péssimas vindas e idas.

Vejam nosso Pituaçú,
parque extraordinário,
com vastos quinze quilômetros,
ciclovia e canários,
rica biodiversidade...
Avalia imobiliário,

especulador, facínora
com lotes, vêem vantagem:
O lucro é exacerbado,
Querendo, assim, eles agem
na cautela do lobista:
povo fica sem passagem,

quando burguês vem e loteia,
fecham as ruas pra eles,
lá, na casa do caralho!
Nem sempre empregadas deles
e o pobre tem que dar volta
cum sol fervente daqueles.

Cordel serve de denúncia,
pois fique você sabendo
duma avenida “gran’nova”
que cortará, metendo
no Pituaçú estrada
com lixo submetendo.

Na ponta, está o “Alfavili;”
na outra está o Imbuí,
ligação mais que perfeita
como cachaça e cambuí
ou caviar e o salmão
pra burguês do Iguatemi:

pense na pobre desgraça
de se ter esta avenida
será principio do fim
natura submetida
aos motoristas imundos
que destruirão na ida.

Nossa Salvador é NEGRA
e pra sua informação
o Cabula e paralela
lá, naquela região
quilombos se organizaram,
Lutaram na contra mão

da maldita escravidão,
oprimindo tanta gente
grilhões e chicotadas
mas, negro tinha em mente
ser livre na nova terra
e com índio foi parente

de luta na paralela
dessa vida escravizada
até hoje permanece
nesta luta embolada
quilombolas, resistência!
continua caminhada

contra gente miserável:
na década de noventa
usavam de argumento.
— Ecologia que sustenta
nossa vida “bla-bla-blá!”
— E o NEGRO que se a arrebenta!

Expulso de sua terra
para ricos se apossar
e derrubaram terreiro
de candomblé, acolá
os seus prédios luxuosos
que não da nem pra avistar

pois estão escondidos
na mata que era quilombo
levantai-vos nosso povo!
Num vôo rasante de pombo
contra esta opressão
que nem chicote no lombo!

Agora me despeço
Livre pássaro voador
Batendo as minhas assas
Em direção do esplendor
Radiando poesia
Também com alegria
O que faço tem valor.


terça-feira, 20 de outubro de 2009

Cachoeira e São Félix.
Recôncavo Baiano.


Cena indescritível é a da chegada às cidades baianas de São Félix e Cachoeira, parece que estamos entrando num cenário cinematógrafico de filme de época. Separadas pelo rio Paraguaçu que nasce na Chapada Diamantina e ligados por uma ponte de ferro (Rodoferroviária) construída por ingleses e inaugurada por D. Pedro II em 1859, os municípios têm belíssimos prédios coloniais.CachoeiraEm uma volta rápida pelo centro da cidade é possível ver a riqueza dos detalhes das construções como o prédios da Santa Casa (1734), a Capela de Santa Bárbara, o Chafariz Imperial (1827), a Igreja da Ordem Terceira do Carmo (1724), a Matriz Nossa Senhora do Rosário e o sobrado da Irmandade da Boa Morte (grupo remanescente de escravos, composto só de mulheres negras, primeiro terreiro de candomblé do país). Tombada pelo IPHAN (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional) em 1971, passou a ser "Cidade Monumento Nacional" e depois de Salvador é a cidade baiana que reúne o mais importante acervo arquitetônico do estilo barroco.No século XIX Cachoeira teve projeção na história política nacional. Dali ecoaram os primeiros gritos contra a opressão portuguesa, visando a criação de um movimento organizado em prol da independência do Brasil. Foi a Câmara Municipal de Cachoeira que, em 1822 proclamou D. Pedro “Príncipe Regente do Brasil”. A cidade foi capital da Bahia independente durante 16 meses, assim como em 1837, durante a Revolta da Sabinada.Por toda sua representatividade, nos dias 25 de junho Cachoeira é oficialmente a sede do governo da Bahia. A lei estadual que determina a transferência foi criada em 2007 e em 25 de junho de 2008 o governador e seu secretariado já despacharam da nave principal do Convento do Carmo.De acordo com o historiador Luís Henrique Dias Tavares, no livro “Independência do Brasil na Bahia”, em 22 de junho de 1822, uma canhoneira portuguesa que protegia o rio Paraguaçu abriu fogo contra o reduto independentista baiano, deixando vários mortos. “Logo após os primeiros tiros da canhoneira começou a luta para silenciar a embarcação de guerra, aprisionar o seu comandante e marujos e desarmar e prender os soldados e os portugueses que haviam feito disparos. Assim começou a guerra pela Independência do Brasil na Bahia”, descreve.E ainda falando dos portugueses, na rua 13 de maio, no Centro Histórico de Cachoeira fica um lindo prédio do século XVII que serviu de hospedagem para o Imperador D. Pedro II, em 1858 e para a Princesa Isabel e o Conde D'Eu em 1885. Hoje reúne mais de 13 mil peças de entre xilogravuras e matrizes, cópias assinadas e não assinadas de uma das personalidades que viveram na cidade, o alemão Karl Heinz Hansen, o Hansen Bahia. Marinheiro, escultor, poeta, escritor, cineasta, pintor e xilógrafo adotou o Estado até no nome.Além da importância histórico-política a cidade também é palco de uma das principais manifestações do sincretismo religioso do país: a Festa de Nossa Senhora da Boa Morte. O evento ocorre todos os anos no mês de agosto (neste ano entre os dias 13 e 17, confira programação clicando aqui). O calendário da festa inclui missas e procissões representando o falecimento de Nossa Senhora e também apresentações do Samba de Roda. Este último, uma mistura de dança, poesia, música e festa que é ligado ao culto aos orixás, é considerado “Obra Prima do Patrimônio Oral e Imaterial da Humanidade” pela UNESCO.O ritmo afro-brasileiro nasceu no Recôncavo baiano por volta de 1860. "O samba nasceu lá na Bahia, se hoje ele é branco na poesia, ele é negro demais no coração.", diz a música do poeta Vinícius de Moraes.Ícone de Brasil, o mais famoso ritmo nacional, o Samba (e seus variantes), teve como base o Samba de Roda nascido nos contornos da Baía de Todos os Santos.

sábado, 29 de agosto de 2009

Estou em Juazeiro na caravana cultura











Se você tem algum conhecido em Juazeiro da Bahia, fale para ele.Caravana Petrobras chega a Juazeiro


Chega a Juazeiro, neste sábado (29), a Caravana Petrobras, projeto da estatal cuja finalidade é dar acesso a variadas linguagens artísticas, entre elas o cinema. O bairro João Paulo II recebe a Caravana no sábado e domingo (30), onde será exibido dentro de uma carreta, na praça principal da comunidade, a partir das 10h, uma série de filmes. O evento tem o apoio da Secretaria de Cultura, Esportes, Turismo e Lazer.
Diante da grande quantidade de apresentações cinematográficas no centro da cidade, a gerência de Cultura do município solicitou à coordenação do projeto que levasse a caravana Petrobras para os bairros, no sentido de promover a cultura em todos espaços da cidade.
O áudio visual é uma linguagem que vem crescendo na região, principalmente em Juazeiro, com várias mostras e festivais de cinema, como os promovidos pela Universidade do Estado da Bahia/DCH e Universidade Federal do Vale do São Francisco, bem como o Festival Vale Curtas.
Filmes para exibição:
• Garoto Cósmico ( classificação livre) – 10h sábado e domingo • Brichos (Livre) – 14h sábado e domingo • Os Porralokinhas (livre) – 16h sábado e domingo • Os desafinados ( 12 anos) – 20h sábado e domingo • A Máquina (12 anos) – 18h domingo • O Cordelista Soteropolitano Alberto Lima - Pelas ruas e praças de Juazeiro.

terça-feira, 11 de agosto de 2009

A poesia e seu tema

Parte João Cabral de Melo Neto e o que parece restar é a angústia do silêncio. Nesta hora calada vem a certeza de que nunca mais haverá versos inéditos, nenhuma metáfora inaudita, qualquer nova imagem. A dor aparece e invade mesmo aqueles que já sabiam com todas as letras de seu abandono definitivo da poesia nos últimos anos de vida por causa da cegueira. O poeta visual, da claridade, do equilíbrio, da construção, agora não tem mais voz. Não haverá outros cabralinos poemas. A palavra está muda. O vazio torna-se material, concreto e assume ainda maior volume quando pensa-se na confissão feita há poucos anos por este pernambucano reconhecido como um dos maiores autores em língua portuguesa: “Não creio ter forjado herdeiros”. Sem nomear seguidores, o poeta de certo modo aponta para que se acredite que a língua e a literatura do país ficam órfãs não só de quem parte, mas de quem viria em seu lugar.
Neste instante, sem guias poéticos a mostrar caminhos, um tanto perdidos, os leitores de seus versos parecem receber como único e triste legado o sentimento de um luto profundo. A escuridão dos anos finais de Cabral transfere-se para o imaginário lírico de seu público. Ficamos cegos de uma poesia de lúcida contundência e no calor da primeira hora da partida torna-se impossível não lembrar o tema da morte, de modo tão profundo presente nos versos do autor de Morte e Vida Severina. Talvez tocando o mistério final tocado em vida pelo poeta morto o enigma de sua partida possa começar a ser enfrentado. Afinal, o que pensava Cabral sobre esta porta sem volta que ele cruzou antes de nós? Que lição nos ensina?
Uma delas pode ser a de falar do doloroso tema privilegiando menos os sentimentos, os adjetivos e mais os substantivos que orbitam ao seu redor. Urubus, cemitérios, defuntos, covas rasas, covas grandes, coveiros, caixões são palavras presentes no espectro de seu vocabulário poético, dando materialidade e objetividade na construção de uma lírica sem derramamentos. É dessa forma que à Indesejada das gentes o pernambucano refere-se em diversos momentos de sua obra, numa sutil obsessão que chega a reconhecer em entrevistas como sendo uma maneira de exorcizar o próprio medo em relação ao desconhecido.
Nos versos de Cemitérios Metropolitanos, por exemplo, pode-se ver a angústia traduzida em perguntas: “Morrer não é valentemente/cruzar um fio pela frente? (...) Já cansado de falar, penso:/porque medo desse silêncio?/Porque tanto eu me temeria/que o nãoser não diga bom-dia,/se me deixa, morto ou desperto,/sem gente falando por perto?.” É o peso do silêncio que apavora o eu lírico, que logo a seguir explica-se: “É porque a morte nos sepulta,/ sem perguntar, à força bruta.”
Ainda sobre a inexorabilidade do destino humano, Cabral é ainda mais taxativo nos dois últimos versos de Máscara Mortuária Viva: “da sala da vida à da morte/é ir entre salas sem saída.” Não parece haver concessões redentoras, espaços para transcendências apaziguadoras na poesia cabralina. O poeta também não escamoteia a finitude que carregamos a cada passo da jornada, e ela faz-se presente de modo exemplar na inesquecível voz do Severino retirante de Morte e Vida Severina. “Desde que estou retirando/ só a morte vejo ativa, /só a morte deparei/e às vezes até festiva;/só morte tem encontrado/ quem pensava encontrar vida,”.
Apesar de visualizarmos um certo tom pessimista na abordagem do tema feita por João Cabral, há outros indícios a mostrar exatamente o contrário. Ao encarar de frente a crueza da trajetória humana, o poeta está pondo em cheque o sentido da vida. Está propondo uma questão que pode também ser lida pela voz de Severino:“Seu José, mestre carpina,/que diferença faria/se em vez de continuar/tomasse a melhor saída:/a de saltar, numa noite,/ fora da ponte da vida?” Sem modos de justificar uma existência sem sentido, permeada de morte, por que seguir adiante? A resposta para a pergunta será a janela a iluminar as salas sem saída em que nos deslocamos.
É mestre Carpina, no encerramento do Auto de Natal Pernambucano, logo depois de ter tornado-se pai de um menino franzino, Severino, quem responde: “Severino retirante,/ deixe agora que lhe diga: /eu não sei bem a resposta/da pergunta que fazia,/se não vale mais saltar/fora da ponte da vida;/nem conheço essa resposta,/ se quer mesmo que lhe diga;/é difícil defender,/só com palavras, a vida,/ainda mais quando ela é/esta que vê, severina;/mas se responder não pude/à pergunta que fazia,/ ela, a vida, a respondeu/ com sua presença viva./E não há melhor resposta/que o espetáculo da vida:/vê-la desfiar seu fio,/que também se chama vida,/ver a fábrica que ela mesma,/ teimosamente, se fabrica,/ vê-la brotar como há pouco/ em nova vida explodida;/ mesmo quando é assim pequena/ a explosão, como a ocorrida;/mesmo quando é uma explosão/como a de há pouco, franzina;/mesmo quando é a explosão/ de uma vida severina.”
Além do espetáculo da vida explicar o que parecia ser inexplicável, há outra lição de Cabral que merece ser lembrada. É a contida em O Cão Sem Plumas. No poema pode-se ver a contundência, o peso que carrega aquilo que tem vida: “O que vive/não entorpece./O que vive fere./O homem,/porque vive,/ choca com o que vive./ Viver é ir entre o que vive.//O que vive/incomoda de vida/o silêncio, o sono, o corpo/que sonhou cortar-se/roupas de nuvens./O que vive choca,/ tem dentes, arestas, é espesso.” Parece haver nestes versos a tentativa de tornar a existência palpável, material, corpórea. Mostrá-la em sua forma concreta e contundente e, de certo modo, incorporada da morte inevitável. Com esta densidade segue o ensinamento final do poeta: “Espesso,/porque é mais espessa/a vida que se luta/ cada dia, o dia que se adquire/ cada dia/(como uma ave/que vai cada segundo/conquistando seu vôo).”
Parte o poeta e já não resta mais apenas a angústia deixada por sua mudez. Suas palavras ensinam que a poesia, que é vida, deve ser conquistada a cada segundo para que não seja letra morta no papel. Assim, é preciso ler Cabral pelo compromisso de espantar o silêncio aterrador ao qual temia. É vital ler Cabral, pois somos todos seus legítimos herdeiros e o legado de sua voz generosa nos ensina que “viver é ir entre o que vive”.
*Susana Vernieri é jornalista, doutoranda em Literatura Brasileira pela Ufrgs. Autora do livro O Capibaribe de João Cabral em O Cão Sem Plumas e o Rio: duas águas?(1999)

terça-feira, 4 de agosto de 2009

Em busca de novas maneiras de comunicar-se tenho o prazer em informal meu www.twitter.com/poetaalberto uma maneira muito original de postar noticias e creio que os senhores, se já não sabe vão gostar.

sexta-feira, 31 de julho de 2009

A poesia e poeto popular vão ande o povo esta, esta máxima é feita com muita hora na varanda do SESI Rio Vermelho no Bar Jequitibar as quartas-feiras das 22:oo á 00:00, nos intervalos da banda de forro BANDO DO VELHO CHICO, que abriu mas um espaço para a poesia popular e vocês que gosta de dançar um do bom.












domingo, 5 de julho de 2009

O brasil não da valor!

No Brasil ainda há comunidades que pensam o mundo, que se expressam e transmitem conhecimentos seguindo a lógica própria da oralidade. Há histórias de índios, de pescadores, de avós, histórias de famílias e tantas outras. Nas regiões do norte e nordeste do Brasil e mesmo em São Paulo, podemos encontrar uma modalidade de expressão literária de tradição oral que acolhe muitos gêneros diferentes. É a literatura de cordel.

O cordel provém da antiga tradição ibérica dos romanceiros, contadores das histórias de Carlos Magno e outras populares. Nas páginas dos “folhetos”, dos “ABCs”, como também são conhecidos os livrinhos de cordel, encontramos antigas histórias que vieram migrando e sendo modificadas ao sabor do contador local, que tratava de imprimir os toques da sua cultura. Assim, os clássicos contos de fadas, as Fábulas de Esopo, contos de animais encantados, de assombração, bem como os “causos” e pelejas foram ganhando características muito peculiares na voz daquele que contava ou cantava as estrofes, acompanhado da viola. As narrativas que o cordel guarda, são sempre ditas de memória ou cantadas, quase sempre acompanhadas por uma viola. Essas histórias atravessam gerações cantadoras, até ganharem a forma gráfica, impressas em papel jornal, em tamanho pequeno, acompanhadas de gravuras feitas em geral pelo próprio autor do registro.

O autor e estudioso de cordel, Bráulio Tavares, na introdução de seu livro A Pedra do Meio-Dia ou Artur e Isadora, descreve com mais rigor as características desses folhetos. Ele diz:

“Um folheto de cordel é um livro pequeno (geralmente 16cm x 10 cm) e muito fino (a maioria tem 8, 16 ou 32 páginas). É impresso em papel barato, e nas capas aparecem xilogravuras (gravuras entalhadas em madeira), reproduções de cartões-postais antigos, ou fotos mostrando cenas de filmes.

Em geral, os folhetos são narrados em versos chamados ‘sextilhas’. A sextilha tem um esquema fixo de rimas; na transcrição de versos, costuma-se usar um sistema de notação onde cada letra equivale a uma linha da estrofe. A sextilha, portanto, usa o esquema que é chamado da ABCBDB. Portanto, a segunda, a quarta e a sexta linha rimam entre si, e as demais não. Alguns autores usam outra notação, e descrevem esse esquema de rimas como XAXAXA, onde o ‘X’ indica as linhas que tem rima livre, e o ‘A’ as linhas que rimam entre si.

Quando os violeiros repentistas estão “trocando sextilhas” durante uma cantoria, existe a obrigação de “pegar a deixa”, ou seja, a primeira linha do verso, em vez de ter rima livre, tem que rimar com a rima principal (linhas 2,4 e 6) do verso do oponente. Nos folhetos narrativos, isso não acontece. O escritor tem apenas a obrigação de rimar a linha 2, 4 e a 6.”

Ainda hoje há grupos que se preocupam com a divulgação do cordel e que o imprimem, reimprimem, editam-nos com uma nova roupagem, tudo para permitir um convívio harmonioso das duas linguagens, a oral e a escrita. Hoje em dia, tem cordel até na China!

quinta-feira, 11 de junho de 2009

Lançamento do codel, A morte do jumento querido.

Caríssimos amigos e amigas, estarei lançando o título de Cordel "A Morte Do Jumento Querido", Apresentação do codel, A Morte Do Jumento Querido, no Beco do Rosália nos barris, em frente a biblioteca,´ dia 12 de junho às 21:15. Vai um trecho do mesmo:

A morte do jumento querido

Contaram no meu ouvido
Que não vale comentar
Desgraceira dum menino
Que vivia aprontar
Falo sério, sou bom macho
Eu não sou de inventar

Zézin era muito arteiro
Mijava lá no açude
Cagava lá no chiqueiro
Comia a bola de gude
Roubava do minhaeiro
Assim fazia sua virtude

Sempre desacreditado
Vivia um tanto feliz
Sorria um tanto desvairado
Duma vida por um triz
Seu jumento, o Inácio
Danou-se ensinar com giz.

As letras do alfabeto
Como ensina pra gente
A soletrar e as regras
Cansativo e bem pungente.
Até Inácio dormir
Uma loucura ciente.

Passados oitenta dias
O animal escrevia
Não só o nome Inácio
Mas, também trechos da bíblia
Os salmos e apocalipse
E tudo mais que ele lia.

O Zézim com muito medo
De roubarem seu jumento
Levou pro mato adentro
E lambuzou de excremento
Sendo assim repulsivo,
Feio, podre e xexelento.

O caçador Osmar Tosta
Embreado mata adentro
Ouviu um relincho forte
Ao lado do pé de coentro
Viu um animal estranho
E disse: — Nesse mato não entro!

Engatilhou e apontou
Inácio logo escreveu:
— Não me mate, por favor!
Osmar de pronto se benzeu
De corpo arrepiado
Paço atrais ele deu

Zézim chega e se depara
Com caçador aluado
E diz que: — O animal,
Não serve pra ser alado
Pois é chucro e malvado

E aqui ele é castigado!

domingo, 29 de março de 2009

Bom, como vai meus caros leitores, esta é a primeira postagem que e é com grande prazer que disponibilizo o cordel: Fatídico dia em que ACM encontrou os desaparecidos.
ACM se consolidou como político durante os anos de chumbo da Ditadura Militar. Foi por várias vezes eleito por indicação e a partir disso construiu um Império, utilizando uma rede de empresas de comunicações e uma política altamente Populista. Não cabe ao cordelista nenhum juízo de valor e julgamento. Este julgamento, o povo foi quem o fez, durante a eleição para Governador do estado.
ACM era velho e seu tipo de política não cabia mais num ambiente democrático.
Tenham uma boa leitura.

Fatídico dia em que ACM encontrou os desaparecidos.

Na Bahia não se nasce. A
Sim, estende a estrear, B
Pudica era a vil época C
Que coronéis tinham a tecar. B
Fino puro ouro pó D
Subversivos maltratar... B

Declama para o povo:
-Nosso futuro será
muitos viadutos e prédios
sem ter muito, Deus dará
terei empresas com renda.
Vejam como ‘depurá’!

E assim fez profecia
Do futuro ‘farturá’
O mesmo ‘Rockfeler’
Sem fazer rir, cacacá...
De alegria a puro peito
Rei da Bahia, ‘Obá’!


«∞§...Este cordel transgride
Realidade fatal
Afinal sou cordelista
Imfame, puro retal
Medo. Pôrra de nada!
No ‘búzu’ é mais real...§∞»

Vejam só caros leitores
No além aonde o povo
Se batia co agonia
E só pedia Socorro
A.C.M. ao lidar
Sucumbia obitoso

O limbo é onde fica
Os espíritos que morre
E rodando como sonsos.
Não precisa corre-corre
Cê fica lá uma cara,
E vive eterno porre.

E neste inferno de ‘Radis’
A.C.M teve com Zémario
Ex-militante juvenil.
Olhava como armário
Parado, vendo ‘senil’
O falido acionário.


Zémario infla os peitos:
-Eu tinha uma namorada
dezeseis anos como eu
em meio a baforada
o homem assim o disse
“A.C.M é á mirada!”...

...e acordo tô aqui?!
há anos eu te espero
farei teu jugamento
terá o fel desespero
não poderá fazer nada,
ignóbil ancião meiro!

Por capricho o malvado
vil e ladrão de judeus
O Ritler. Que o amparo,
Zemário com mãos em paus
Se foi. O velho agradeceu:
– “Sem tu, só se fosse deus!”

Ritler mostrou o lugar
A.C.M. apreciou
Perguntando como voltar
O anti-semita falou:
–“Tu já devia saber
nunca ninguém retornou.


...voltar? Sem mínima volta
agora é aguardar
e que a longa eternidade
logo «hufa...» terminará
quem sabe pra você
não será fácil retratar.

– Mas como? – disse ACM.
– É... basta pedir perdão.
Para todos, que em fim...
Eles... é... sucumbiram?!
“Morreram por sua causa!”
É... Tanto difícil, não?!

Mariguela o espreitava
Lançando seu olhar
Mais que tiro fatal
Ávido para desventar*
E com as trispas
Enrolar e enforcar.

Mas, Mariguela sabia
Que poderia encarnar*
E abrindo o bucho do velho.
Mais anos «xii...» amargar
Refletiu por um tempo
Como ondas no mar.


Cá na terra atmosférica
O João Carlos T. Gomes
Escritor de: ‘MEMÓRIAS DAS TREVAS’
Reunido entre homens
Comemorava o dia
Jogando poker vinténs.

Terreiros de candomblé
Em alguns lastimavam
O apoio mais que dado
Daquilo que mais amavam
“Liberdade religiosa”
Com flores soluçavam.

Tvs «dono da Bahia».
Um tanto sofisticada
Relatos e homenagens
Toda rede integrada.
Há um ser abominável
Agora jaz mortificada.

Os canalhas todos juntos
No velório estavam
Em cantos com burburinho
Papo de eleições tramavam
Envelopes no escurinho
Pra prefeito especulavam.


- Temos é que vazar, já!
-Disse o correligionário
-...bota a mula pra picá
os petistas vão caçar
e cair pro lado de cá ...

...por ai tem partidos novos
e cabem todos nós e mais
limpamos a nossa cara
«brindam»
direitos universais
a política anacrônica
com raízes bem fatais.

Na fila; cortejo fúnebre
Muitos interesses; eleito
Foram casas e empregos
Buscando maney pleito
De só sua vida melhorar
E ACM em pleno leito.

As lideranças de bairros
Levaram suas comitivas
Alguns totalmente eufóricos
Idéias bem primitivas
De retornar ditadura
Liberdades restritivas.


Na terra subterrânea
Lamarca e Chê Guevara
Armava uma cocó
De dali de com vara
Na cara de ACM
Dando-lhe uma saraivada.

Mas a sorte de ACM
Parecia infinita
Pois o sumido Bim Ladem
Ortodoxo «bum» sunita
Acalantou o ACM:
- ô meu velho fascista

... oi, eu posso te ajudar
em sua peleja difícil
tramarei um atentado
será como grande míssil
terão medo de ser tostado
o perdão vira mui fácil.

ACM não escutou
Do nada ele surtou
- Sou o leão da Bahia!
E assim deu-se que falou
No inferno subjugou-os
E a todos improperou.

Enfim, as atitudes de ACM seguem no purgatório como na terra...




FIM