Caríssimos amigos e amigas, estarei lançando o título de Cordel "A Morte Do Jumento Querido", Apresentação do codel, A Morte Do Jumento Querido, no Beco do Rosália nos barris, em frente a biblioteca,´ dia 12 de junho às 21:15. Vai um trecho do mesmo:
A morte do jumento querido
Contaram no meu ouvido
Que não vale comentar
Desgraceira dum menino
Que vivia aprontar
Falo sério, sou bom macho
Eu não sou de inventar
Zézin era muito arteiro
Mijava lá no açude
Cagava lá no chiqueiro
Comia a bola de gude
Roubava do minhaeiro
Assim fazia sua virtude
Sempre desacreditado
Vivia um tanto feliz
Sorria um tanto desvairado
Duma vida por um triz
Seu jumento, o Inácio
Danou-se ensinar com giz.
As letras do alfabeto
Como ensina pra gente
A soletrar e as regras
Cansativo e bem pungente.
Até Inácio dormir
Uma loucura ciente.
Passados oitenta dias
O animal escrevia
Não só o nome Inácio
Mas, também trechos da bíblia
Os salmos e apocalipse
E tudo mais que ele lia.
O Zézim com muito medo
De roubarem seu jumento
Levou pro mato adentro
E lambuzou de excremento
Sendo assim repulsivo,
Feio, podre e xexelento.
O caçador Osmar Tosta
Embreado mata adentro
Ouviu um relincho forte
Ao lado do pé de coentro
Viu um animal estranho
E disse: — Nesse mato não entro!
Engatilhou e apontou
Inácio logo escreveu:
— Não me mate, por favor!
Osmar de pronto se benzeu
De corpo arrepiado
Paço atrais ele deu
Zézim chega e se depara
Com caçador aluado
E diz que: — O animal,
Não serve pra ser alado
Pois é chucro e malvado
E aqui ele é castigado!
com efeito, eu amo essas deliciosas narrativas
ResponderExcluirpoéticas que retram cotidiano do povo e suas lendas. gostei do toque surrealista.
faço-lhe um convite, integre o site luso-poemas:
http://www.luso-poemas.net/
COMEDORES DE SOBRAS
ResponderExcluirNo penúltimo halo da antemanhã,
Pessoas saem de seu humilde viveiro
Para buscar o combustível do corpo
Em um quase longínquo desterro.
E, ao chegar a seu destino,
A feira,
Esperam pacientemente
O ocaso da efervescência
Da harmonia desarmônica
Dos sóis de quem vende e de quem compra.
Então, quando advém a hora ansiada,
Afluem sôfregas ao encontro do tapete
De frutas, legumes e verduras
Que cobre o chão
Onde, sob os afagos rudes do dia-a-dia,
Rodas, sapatos, pés desnudos ou de sandálias
Apressada e inescrupulosamente pisam.
Ah, e como a fome delas
É canina e ao mesmo tempo conformista:
Um ancião desempregado
Amaina o vácuo em sua barriga
Com uma suculenta manga dormida.
Ah, quando alguém se depara
Com a horrenda fronte da fome
------ Sentada no trono de sua opulência ferina ------
Deslinda que o nojo é luxo;
Não uma alameda a ser seguida.
Algumas, ao regressar a seu ninho,
Comutam refugo em lucro:
O que na feira era lixo;
Na carente vila de casebres
É auspicioso fruto rentável, celeste, divino.
No entanto, para a hoste de grisalhas
Barbas engravatadas e garbosas,
Este paraíso da lídima e visceral miséria
É nada mais que um moribundo resquício
De seu passado sem rosas e azaleias.
Não, mas estas pessoas:
Estas pessoas sabem
Que a miséria cintila até o ponto
Em que assoma a dor nas vistas;
Que ela é viva, concreta, fenece, fere,
Queima e alucina.
E ela o faz de inúmeras maneiras:
Maneiras que a mais poderosa verve
Nunca sequer imagina.
Sim, todavia alheias aos mais atrozes sofismas,
Elas prosseguem crentes na vida:
Sempre a segurar a ponta do rabo
Daquilo que crêem ser a esperança,
Apesar do crepúsculo, das mazelas,
Das chagas em abundância,
Da dor, da amargura e da desabonança!
Enfim, elas prosseguem,
Mesmo com o mar infinito de desamor,
De inclemência, da ausência de ternura
E do culto da sentimental distância.
Sim, estas belas pessoas continuam a hastear,
Embora não saibam,
O estandarte do vislumbre de uma vindoura era magnânima.
JESSÉ BARBOSA DE OLIVEIRA
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