Este cordel de Manuel Moteiro "Maria Garafada" foi-me uma inspiração para escrever A Mulher Que Matou o Marido Para Amancebar Com o Jumento Querido, para vocês meus caros leitores que já viram ao vivo ou mesmo pelo link do youtub, leiam este cordel e me diga se não é extremamente mais escroto...
literatura de cordel
Maria Garrafada
MESTRA DO AMOR, PECADORA E SANTA
Autor: Manoel Monteiro
Membro da Academia Brasileira de Literatura de Cordel
-01-O século passado foi Rico em criar personagens Dos mais diversos matizes, Das mais típicas linhagens; Destacando, a lira arguta Vai render a uma puta As mais justas homenagens. | |
-02- CAMPINA GRANDE cresceu Graças a força empenhada Por forasteiros e filhos Desta terra tão amada, Dentre os nomes que se inscreve Um � quem CAMPINA deve É MARIA GARRAFADA. | |
-03- T odos deram ajuda GRANDE Para construir CAMPINA E MARIA GARRAFADA, Logo cedo, bem menina, Instalou próspero empório Que tinha como escritório As entranhas da vagina. | |
-04- MARIA foi tão somente MARIA só, e mais nada, Alquimista intuitiva Criou meizinha afamada, Que fabricava e vendia A qual deu-lhe o nome um dia De MARIA GARRAFADA. | |
-05- MARIA sem sobrenome Sem passado ou tradição, Sem procedência importante Sem orgulho ou ambição Sem apegos e sem laços Viveu de vender pedaços Do seu grande coração. | |
-06- Ela que mercadejava O amor por atacado Sabia os riscos que corre Quem vive nesse mercado Mesmo porque muitas vezes Viu alguns dos seus fregueses “Comprar produto” estragado. | |
-07- Antes da penicilina A pessoa “premiada” Com uma venérea estava Numa tremenda enrascada Da qual por vez não saia, Para ajudá-los, MARIA, Formulou a GARRAFADA. | |
-08- Ela que portava o mal Também ofertava a cura Não tinha culpa de ser Objeto de procura, Corria riscos constantes Igual, ou mais que os amantes Nessa vida de aventura. | |
-09- MARIA nos verdes anos Fez da profissão antiga Um sacerdócio e um bem, Afável, doce e amiga; Na idade matutina Doou-se inteira � CAMPINA Como prima-rapariga. | |
-10- No bordel de um leito só Era um vai-e-vem diário De gente importante e rica, Camponês e proletário, Velho fazendo mestrado E jovem pouco ilustrado Fazendo o curso primário. | |
-11- No Beco da Pororoca Instalou seu paraíso Aonde CAMPINA-homem Baixava, quando preciso, Na ânsia de conhecer Os mistérios do prazer O amor pleno e conciso. | |
-12- � Numa cama pobre e tosca Sob a luz bruxuleante Duma lamparina acesa Com sua chama ondulante Esfumaçava paixões De imberbes rapagões Nas mãos de MARIA amante. | |
-13- MARIA, corpo de louça, Olhos ternos, voz serena, Mãos de fada na carícia, Parceira de Madalena Nessa profissão sem nome A não ser que você some Nomes que vão a dezena. | |
-14- As prostitutas do mundo Muitos outros nomes têm: Um, Mulher da Vida Fácil Pois acham que vivem bem, Mas isso é pura besteira, Quer ver se a vida é maneira? Caia na vida também. | |
-15- Catraia, quenga, piranha É assim que o povo chama, Biscate, puta, rameira, Quebra-galho, mulher-dama, Mas sendo em sociedade Ganha nova identidade Pra ser Moça de Programa. | |
-16- A puta é como o palhaço Que jamais pode deixar T ransparecer seus problemas Para não contrariar Os que querem diversão Mesmo porque a função Precisa continuar. | |
-17- MARIA igual a Maria Aquela da Palestina Também sofreu seus tormentos Mas sem maldizer a sina, Padeceu no paraíso, Se triste, fez-se em sorriso Pelas noites de CAMPINA. | |
-18- Foi namorada e amante, Conselheira e confidente De uma cidade inteira Rica de bens, mas carente De um corpo disponível Que aceitasse passível O desfrute permanente. | |
-19- MARIA dava de graça, Por muito, ou pouco dinheiro, Seu negócio era manter Os fregueses do puteiro Onde era Mestra e Doutora, Dona, serva e criadora Do comércio pioneiro. | |
-20- Numa ruazinha estreita MARIA fez o seu ninho Onde – vendia um “pedaço” do corpo – ou dava todinho, Alma, vida, coração, Mais amor, e mais paixão, Mais ternura e mais carinho. | |
-21- “Comprar” mulher não é coisa Que se chame novidade, Você “compra, paga e usa” Quando bem lhe dá vontade, “Come” e fica satisfeito Mas deixa do mesmo jeito Pra outra oportunidade. | |
-22- Desse-lhe um copo de vinho, Uma dose de licor Ou uma pequena cédula Do mais ínfimo valor Isso bastava a MARIA E ela retribuía Com uma taça de amor. | |
-23- Estava sempre ao dispor Quer de noite, quer de dia, Era só bater de leve Ela solícita atendia, Para a cidade carente MARIA literalmente Pernas e portas abria. | |
-24- Na alcova MARIA foi Passiva, ativa, instrutora, Recatada, libertina, Maternal e professora Por isso reconhecida MARIA foi nessa vida A mais Santa-pecadora. | |
-25- MARIA ensinou CAMPINA A arte da putaria, Moça cair na fuzarca, Rapaz “chupar” porcaria; Velho quando estava seco Era só passar no Beco E afogar-se em MARIA. | |
-26- Muitas damas da cidade Hoje matronas casadas, Com esposo/filhos, netos, Proles bem estruturadas; Não esquecem que um dia Foram da Mestra MARIA Alunas bem aplicadas. | |
-27- Estou relembrando isso Mas sem recriminação, Quem deu, se deu porque quis, Por amor, ou precisão, Deu uma coisa que dando, Não diminui, vai somando Prazer e satisfação. | |
-28- Também muitos cavalheiros Dos quais ninguém desconfia Freqüentando a Pororoca Forçaram na fantasia, Em noites de vinho e tara Findaram metendo a cara Entre as pernas de MARIA. | |
-29- Nesse caso eu digo o mesmo, Se fez e fez porque quis, Sem MARIA forçar muito A cara do infeliz Não vou condenar ninguém Pois cá pra nós, eu também Algumas besteiras fiz. | |
-30- Mesmo o passado só serve Para lembrar no futuro E aquilo que se deu Numa alcova ou quarto escuro Só aos dois interessa Sendo melhor que a conversa Jamais ultrapasse o muro. | |
-31- Homem vence touro brabo Mas a mulher o “derruba” Anotem, pois alguns nomes Dos que fizeram suruba Com MARIA GARRAFADA: - Seu Terto passou noitada Com Severo e Carnaúba. | |
-32- Francisco da Marinete, Carlos, dono do Abrigo Numa noite fraquejaram Igualzinho � seu Rodrigo Que ao lembrar-se do Beco Ficava engolindo em seco, Porque? Eu sei, mas não digo. | |
-33- Dr. William de Brito Ilustre cardiopata Numa noite de gandaia Bebeu que meiou a lata Depois caiu na orgia E lambeu tanto MARIA Que ficou de venta chata. | |
-34- O industrial Serginho Aquele da Tecelagem Era lambedor de fama E contava pabulagem; O Chefe da Estação Num concurso de chupão Ganhou com 10 de vantagem. | |
-35- Mesmo arriscando o pescoço De delatar eu não fujo Pois MARIA me contou Que o empresário Araújo Nas noites que a visitava Dificilmente escapava Sair de bigode sujo. | |
-36- Na lista dos lambe-lambe Estão Quirino e Lindolfo, Anézio, Mário e Luiz, Asdrúbal, Santos, Rodolfo, Tavares, Costinha, Paulo, Wanduy, Marquito, Saulo, José, Valdez e Sindolfo. | |
-37- Alfredo da Padaria, T enório, Cícero, Cabral, Antunes que ajudava As missas da Catedral; Segundo contou MARIA A relação encheria Um caderno de jornal. | |
-38- Por favor, não vão sair Suspeitando de ninguém Porque os nomes acima São fictícios e quem Vai fazer o papel feio De mostrar o erro alheio Se tem seus erros também? | |
-39- Os nomes foram trocados Mas a história é real, O Beco da Pororoca Por décadas foi o local Onde se achava MARIA E a cidade fazia Repetido bacanal. | |
-40- Na Escola da Pororoca A estudantada via Uma oportunidade De aprender anatomia, MARIA ensinava tudo Era o compêndio de estudo Onde a moçada aprendia. | |
-41- Foi desgastando-se aos poucos De tanto ser folheada, Cada ruga que surgia Era uma folha rasgada, Chegando ao final do conto, Resta uma cruz, como ponto, De MARIA GARRAFADA. | |
-42- MARIA, jovem, vendia Beleza, lascívia e graça E quando passava enchia De brilho os olhos da praça Mas o tempo foi passando E MARIA foi ficando Como vitral que se embaça. | |
-43- Seus trejeitos sensuais, Seus meneios provocantes, Seu corpo de saciar A sede de mil amantes Dando amor e recebendo Aos poucos foi perdendo As belas formas de antes. | |
-44- MARIA, Santa MARIA Deu a cidade que amou Seu corpo em flor de menina Assim que desabrochou, Mas como tudo é furtivo, Um dia, assim, sem motivo MARIA inerte, murchou. | |
-45- CAMPINA sentindo falta Da puta mais festejada Mestra na arte sublime De dar prazer � moçada Por ser de pleno direito Queda-se rendendo um pleito A MARIA GARRAFADA. | |
-46- CAMPINA cidade obreira Feita por gente impoluta É GRANDE porque nasceu Com muito trabalho e luta De criadores, tropeiros, Filhos natos, forasteiros, Índio, branco, preto e puta. | |
-47- M – ÁRIA, estes versos são A – minha humilde oferenda N – ão devo esquecer que em vida O – teu corpo esteve � venda; E – ras Santa e dissoluta, L – inda, pecadora e puta, M – ULHER, mulher, rica prenda. |
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