sexta-feira, 26 de novembro de 2010

Contos que desmistifica a diferença entre "Camarada"

O chato no cárcere
            

 No mesmo, todos são iguais por se tratar de pessoas que eleva sua ignorância ao máximo do ridículo. São pessoas que com certeza, meu caro leitor, você deve conhecer um. Reporto-me a Daniel, rapaz que por mais força que faça só consegue prestar tolices onde chega, creio que deva ser um detalhe que carrega em sua genética /gênese, se lhe apresentarem um bicho-preguiça  de fato o animal sairá correndo não suportando sua retórica funesta.
 Semanalmente é espancado por familiares, vizinhos e até desconhecidos, basta ter um circulo; encontro; ou até mesmo uma assembléia, ele enfiará seu bedelho desconstruindo o assunto; pauta; pregação, com outros assuntos ou dando opinião que não é de interesse dos mesmos. A falta de discernimento, além de lhe causar dor, deixa muito preocupada sua mãe Dona Abgail, ex-psicóloga pois, abandonou a carreira ao deparar-se com sua principal derrota: “seu filho” e nunca o modificou nem uma ‘napa’ —Pior! Com o tempo, sua personalidade obsessiva lhe definira mais o seu caráter de chato.
 Não suportando mais a melancolia de ser um individuo solitário, a sua própria cabeça confusa criou um personagem que nem o próprio identificou como loucura. Por um lado foi um alívio para sua mãe que até fingia estar de frete com a entidade, de certo modo seu amigo imaginário tornou-se uma espécie de consultor, guru ou como ele mesmo chamava "Professor," com dois anos de intensos debates e aconselhamentos o tal professor, sumio — Como pode, o amigo imaginário, o abandonara! Daniel por três dias aguardava o amigo professor e nada, até que então, não suportando a aflição foi a 7ª delegacia no Rio Vermelho e prestou queixa ao delegado Portela:
—Bom dia senhor delegado Portelinha.
—Êpa pare ai! —cortando-o— que negocio é esse de Portelinha, que intimidade é essa?!
—Me desculpe, não irá se repetir, é que venho prestar uma queixa de desaparecimento do meu amigo professor, que sumiu á três dias e não deu nenhuma notícia (enxugando a lagrima) pode ter acontecido algo a ele, eu nunca tive um amigo de verdade e estou sofrendo muito com a falta dele.
—Como chama seu amigo professor?
—É... Não sei, eu nunca perguntei.
—A quanto tempo conhece ele?
—Dois anos, seis dias e acho que oito horas...
—E onde mora esse tal professor?
—Em minha casa, ele nunca saiu!
—...Ô Matias (o delegado chama o carcereiro) leva esse engraçadinho pro xadrez e só tira no final da tarde.
—Isso é uma arbitrariedade! Sou um pagador de impostos! Um cidadão íntegro, me largue! Isso não é justo Portelinha.
—Portelinha...(pensa o delegado) eu tenho um metro e sessenta e oito, estatura mediana brasileira seu maluco!  No cárcere encontrava-se todo tipo de criminoso: ladrão de carro, trombadinha, estelionatário, traficante, causadores da desordem (seis homens de setenta e cinco anos que ficaram nus em frente à agência da previdência social) e em outra cela estupradores trêmulos.  Num  ambiente  nada   amistoso   Daniel procurou encostar suas nádegas na parede    com     receio     que   a      bolinassem pelos velhos desordeiros, depois de uma hora naquela posição incomoda e desesperadora um dos desordeiros os perguntou:
— Ô meu filho, eu sempre te vi na biblioteca estudando, sempre bem arrumado e o que você esta fazendo aqui?
—É que eu chamei o delegado de Portelinha.
A gargalhada foi generalizada.
—Eu só vim dar uma queixa (completa Daniel) de desaparecimento do meu amigo professor.
—Eu acho que você precisa distrair essa sua cabeça meu filho, eu e meus amigos estamos nos articulando para fazer uma revolução do proletariado, como a revolução Russa de 1917 lembra?
—Sim, os bolcheviques, a galera da ala majoritária do Partido Operário Social Democrata da Rússia que, com Lênin (Vladimir Ilitch Ulianov), liderou a revolução de 1917, e por fim passou a constituir-se no Partido Comunista da antiga União Soviética.
—Isso mesmo meu filho, só que nossa causa é a previdência social que todos, todos mesmo! Iram ter de um dia ir lá e nossa causa é justa queremos simplesmente que os mortos deixem de receber salários, entende?
—Não...
—Uma pá de gente recebe salários de pessoas que morreram e com isso nós que estamos nos aposentando e que vão se aposentar como você, terão seus vencimentos reduzidos, por quê? Porque, a previdência irá quebrar e não terá dinheiro para mais ninguém, inclusive para você meu filho.
—Que terrível! O que será de minha velhice? É... não tem outro jeito, terei de recorrer a previdência privada.
—Mais é isso que o sistema capitalista quer meu filho, o que temos que fazer é lutar contra esse sistema e só há uma maneira; esta dentro dela trabalhando conseguindo desarticular estes facínoras usurpadores de pensões alheias.
—O que posso fazer pra entra na causa e lutar contra os usurpadores?
—O primeiro passo (cochichado) é você se escrever no concurso da previdência que esta aberta, você não estará sozinho, tem outros camaradas que também trabalhará lá e as reuniões secretas que você irá saber posteriormente; memorize este E-mail oalbertolima@gmail.com que você saberá.          
 Ao sair da delegacia no final da tarde Daniel, para surpresa dos funcionários do estabelecimento o nosso protagonista deste conto estava bem calmo e sereno bem diferente como tinha entrado. O carcereiro comenta com outro policial:
—É meu rei, fecharam os manicômios sobraram às delegacias, se isso vira moda é melhor trocar as armas por seringas.
 Passados seis longos meses Daniel já tinha se acostumado viver sem o professor e passara no concurso da previdência, no inicio de sua funcionabilidade no cargo de atendente de previdenciários sentia-se em plenitude, afinal de contas, ele não corria atrás das pessoas para conversar, elas vinham até ele. Um ano se passou e Daniel não recebera nenhum E-mail do velho pelado da delegacia e uma boa parte dos seus colegas que entraram no mesmo período eram suspeitos de serem participantes da causa mas, nenhum deles esboçavam ter haver com o objetivo revolucionário, ao contrario, pareciam muito fúteis preocupados com novo celular da moda ou o próximo ensaio do Psirico, Daniel buscou ser mais agressivo falava da revolução Russa de 1917 e suas conseqüências no que  viria  ser  os  países  socialistas, criticava o neoliberalismo imposto pelo Estados Unidos. O que ele conseguiu com essa atitude agressiva? —Ser tachado como comunista e tava promovendo a intriga para uma nova greve. De modo que foi chamado para uma acareação na sede da previdência central, reunido com o conselho foi indagado por diversas acusações de espionagem e que estaria fazendo parte duma rede de terrorismo para desestabilizar o novo governo eleito. Feitas tais acusações, foram nomeados novos auditores da sede que Daniel trabalhava para averiguar o estrago que ele teria feito e os nomeados para tal tarefa foram os que denunciaram Daniel, ironicamente os tais auditores também entraram na previdência para trabalhar no mesmo período que o destemido Daniel.
 Para dar ordem e segurança no trabalho dos auditores, Daniel ficou preso na sede da policia federal até que as investigações terminassem. Passados três longos meses estourou em toda mídia uma lista de beneficiários de mais de cinqüenta milhões de aposentadorias indevidas pela previdência social pública, muitos políticos e parentes dos mesmos, estavam envolvidos, chegando o disparate de um único deputado Carioca receber cento e vinte e oito aposentadorias de pessoas mortas. Com o caso averiguado os auditores que sem Daniel saber eram seus camaradas de causa, misteriosamente morreram em acidente de carro e outros com objetos que atingiram suas cabeças ao trafegar a pé nas ruas. Daniel foi sentenciado por corrupção passiva e amargou três anos na penitenciaria e os envolvidos nas fraudes de aposentadoria de mortos por se tratar de cinqüenta milhões de envolvidos a expectativa é que demore uns vinte anos para terminar as investigações.
  Daniel saiu da penitenciara calmo e sereno como outrora se fez na delegacia  de Portela, sua primeira providência foi processar o estado pois, não havia culpa alguma pra estar preso e escreveu um livro sobre seu período no cárcere.
 Toda esta situação foi para Daniel muito válido, assim o trauma da melancolia afastara o fantasma da solidão. 










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